Policial penal é investigado por tentar extorquir R$ 800 mil de empresário e fazer postagem com ameaças
22/02/2025
(Foto: Reprodução) A investigação é feita pela Controladoria Geral de Disciplina dos órgãos de segurança pública do Ceará. Agente já é réu na Justiça por atirar em detentos que estavam trancados na cela de um presídio em Itaitinga. Policial penal já era investigado por atirar em detentos que estavam trancados em uma cela de presídio no Ceará
O policial penal Myke Alone Barbosa de Sousa, de 32 anos, está sendo investigado por tentativa de extorsão de R$ 800 mil de um empresário e por fazer postagem nas redes sociais com ameaças. A investigação é feita pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD), que abriu dois Processos Administrativos Disciplinares (PADs).
✅ Siga o canal do g1 Ceará no WhatsApp
As decisões foram publicadas no Diário Oficial do Estado (DOE) desta quinta-feira (20). No documento também consta a punição dada ao agente em um dos casos. Myke já foi preso por atirar detentos de um presídio de Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza. (veja o vídeo acima)
O g1 não conseguiu contato com a defesa de Mike Alone até a última atualização desta reportagem.
Conforme o processo, ao qual o g1 teve acesso, no dia 16 de março de 2023, um empresário do ramo de venda de veículos foi informado por uma funcionária de que um homem teria ido até uma escola de propriedade de um parente dele com a foto da vítima e da família, alegando que estava lá para cobrar R$ 800 mil referente a uma dívida.
Um dia após tomar conhecimento do caso, o empresário passou a receber mensagens de texto e de voz pelo WhatsApp cobrando a quantia, caso contrário, "ele estaria decretado". A expressão é usada por criminosos para indicar que uma pessoa está marcada para morrer.
A vítima denunciou o caso à polícia e explicou que em 2022 participou de uma transação envolvendo outras três pessoas, referente a compra de sete veículos, no valor de R$ 800 mil. Porém, os envolvidos não receberam os automóveis, pois caíram em um golpe.
LEIA TAMBÉM:
Foto em rede social levou polícia a descobrir que PM matou motorista durante discussão no trânsito
PM é demitido por apresentar atestado médico falso para não trabalhar
Durante as investigações, a Polícia Civil descobriu que foi usado um dado cadastral falso para habilitação do chip telefônico dos suspeitos. No entanto, os agentes conseguiram identificar os IMEIs dos aparelhos em que o chip foi usado.
A partir disso, os investigadores descobriram que no dia e horário em que as mensagens foram enviadas o chip foi usado no celular do policial penal Myke Alone e no do primo dele, Brendo Wills Barbosa de Sousa.
Em depoimento, Myke negou que tenha enviado as mensagens com ameaças e afirmou que desconhecia os números de telefone que a investigação apontou ser dele. Já Brendo, ficou em silêncio.
Os dois foram indiciados pela Polícia Civil por extorsão e em agosto de 2024 o Ministério Público ofereceu denúncia contra eles. A denúncia foi recebida pela 1ª Vara Criminal de Fortaleza e primos viraram réus.
Para a CGD, o policial penal violou os deveres funcionais, por isso, instaurou o processo para apurar as possíveis transgressões cometidas por ele.
Postagem com ameaças
O outro processo da Controladoria contra Myke Alone é sobre uma postagem em uma rede social com ameaças feitas pelo policial penal usando um perfil falso.
De acordo com o relatório técnico da CGD, no dia 24 de janeiro de 2024 o policial penal comentou em uma postagem do Instagram do Sindicato dos Policiais Penais do Estado "que adentraria nas alas [do presídio] armado e descarregaria 45 munições [nos detentos]".
Na postagem, o perfil usado pelo agente ainda pedia para que os demais policiais "não cruzassem os braços".
Por conta dessa postagem, que a investigação comprovou ter sido feita por Myke, ele foi punido com uma suspensão de 45 dias. No entanto, a medida foi convertida pela CGD no pagamento de uma multa no valor de 50% dos vencimentos do agente nos períodos da punição.
"Sendo obrigado o policial penal a permanecer em serviço, tendo em vista o interesse público e a essencialidade do serviço prestado", diz um trecho do documento.
Tortura contra presos
Myke Alone Barbosa de Sousa, de 32 anos, já foi preso por atirar em detentos que estavam trancados em uma das celas de um presídio em Itaitinga.
Reprodução
Myke já responde a processos criminais e administrativos por torturar internos da Unidade Prisional Professor José Sobreira de Amorim, em Itaitinga, na região metropolitana de Fortaleza.
O caso ocorreu na noite de 23 de maio de 2024, quando o policial penal, usando uma arma com munição não letal, atirou contra 18 internos que estavam em uma cela da unidade, ferindo quatro deles.
Durante o depoimento, uma das testemunhas relatou que tudo começou quando um interno foi visto fora da cela, por ter problema com os outros detentos, e não queria voltar ao local. Na ocasião, Myke foi orientado pelo superior a colocar o homem em outra cela.
Em seguida, ele passou a discutir com outros internos, que não obedeciam aos seus comandos. Quando a situação já estava controlada, ele fez seis disparos, registrados pela câmera corporal de outro policial penal.
Durante os depoimentos, as testemunhas foram indagadas se no momento dos disparos os detentos estavam colocando em risco a integridade física de Myke, de outros policiais da composição ou de outros internos, e todos alegaram que não.
Na ocasião, o policial penal foi preso em flagrante e os detentos feridos foram socorridos e encaminhados ao hospital com ferimentos leves.
O agente virou réu pelo crime de tortura após a Justiça aceitar a denúncia do Ministério Público.
Assista aos vídeos mais vistos do Ceará